A recente retomada do antigo Centro de Treinamento do Audax pela Prefeitura de Osasco, com o objetivo de transformá-lo em um novo Complexo Esportivo Municipal, levanta importantes questionamentos quanto à responsabilidade e à transparência na condução de obras públicas de grande porte. A iniciativa, anunciada como um marco para o esporte e lazer da cidade, deve ser acompanhada com atenção redobrada pela população e pelos órgãos de controle, especialmente em razão do histórico recente do município envolvendo graves denúncias de corrupção.
Em 2016, a cidade de Osasco foi abalada por uma das maiores operações de combate à corrupção já realizadas pelo Ministério Público de São Paulo: a Operação Caça-Fantasmas. A investigação revelou um esquema de desvio de aproximadamente R$ 21 milhões dos cofres públicos, por meio da contratação de funcionários fantasmas. O escândalo envolveu o então prefeito eleito Rogério Lins e 13 vereadores, resultando em prisões e afastamentos. Apesar da gravidade das acusações, parte dos envolvidos foi reeleita, fato que evidencia a fragilidade institucional na responsabilização política.
Diante desse histórico, é imprescindível que projetos como o do novo Complexo Esportivo Municipal sejam conduzidos com máxima seriedade, transparência e fiscalização. O investimento em infraestrutura pública deve estar necessariamente acompanhado de mecanismos robustos de controle para evitar que os mesmos erros do passado se repitam. Para isso, algumas diretrizes são indispensáveis:
- Gestão Técnica Qualificada: A nomeação de profissionais qualificados e com experiência comprovada em planejamento e execução de obras públicas é essencial. A atual condução do projeto pela Secretaria de Planejamento e Gestão, liderada por um engenheiro civil com histórico no setor público e privado, é um passo positivo — mas não suficiente por si só. A escolha técnica deve ser respaldada por critérios objetivos, e não por indicações políticas.
- Auditorias Constantes e Independentes: A adoção de auditorias periódicas, preferencialmente realizadas por órgãos externos ou autarquias independentes, é uma medida fundamental para garantir a legalidade dos contratos e a correta aplicação dos recursos públicos.
- Transparência Irrestrita: Todos os detalhes do projeto — incluindo orçamentos, cronogramas, responsáveis técnicos, empresas contratadas e alterações contratuais — devem estar acessíveis ao público por meio de plataformas digitais atualizadas. A população tem o direito de acompanhar como o dinheiro público está sendo investido.
- Participação Popular e Controle Social: A sociedade civil precisa ter meios reais de participação no processo decisório e de acompanhamento da obra. Audiências públicas, conselhos municipais e aplicativos como o SEREL APP, se devidamente integrados ao projeto, podem ser instrumentos de fiscalização popular.
- Rigor na Licitação e Execução dos Contratos: É essencial que as licitações sigam critérios rigorosos de qualidade, prazo e preço justo. Cláusulas que garantam penalidades em caso de descumprimento contratual devem ser exigidas e aplicadas com firmeza.
A requalificação do espaço do Audax representa uma oportunidade de transformar positivamente a cidade de Osasco, oferecendo um equipamento público moderno e acessível. No entanto, essa oportunidade só se concretizará como um verdadeiro benefício à população se for conduzida com absoluta integridade. Em uma cidade marcada por escândalos recentes de corrupção, não basta fazer: é preciso fazer certo, com responsabilidade, respeito ao dinheiro público e compromisso com o bem comum.
A sociedade osasquense não pode mais tolerar retrocessos. A construção do novo Complexo Esportivo Municipal deve ser não apenas uma obra de infraestrutura, mas um exemplo de boa governança.
A proposta da Prefeitura é nobre e tem potencial de gerar impactos positivos na qualidade de vida de milhares de cidadãos. Ainda assim, a lição do passado é clara: boas intenções precisam caminhar ao lado de práticas administrativas éticas e transparentes. O combate à corrupção e o zelo pela coisa pública não devem ser apenas discurso, mas prática cotidiana e institucionalizada.
Em tempos em que a memória da população sobre escândalos passados tende a se apagar, cabe ao poder público provar, com atitudes concretas, que aprendeu com os erros e que cada nova obra é um símbolo de renovação, não uma repetição de velhas práticas.
A sociedade osasquense não deve aceitar menos que isso.
Évelton José Beatrici
Autor do Livro: Gestão Pública – Técnicas para Antigos Político
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